Em nossa
caminhada de reflexão sobre Maria, nos propomos a examinar a Sagrada Escritura
para contemplarmos as imagens que deste mundo brotam e refletem os traços
marianos, como sementes plantadas desde a primeira aliança (Antigo Testamento:
AT). O que faremos é um decalque de traços que nos séculos passados outros
traçaram contemplando essas páginas sagradas e inspiradas. Gianfranco Ravasi,
no seu livro “Os rostos de Maria na Bíblia” (Paulus), nos oferece trinta e uma
imagens bíblicas, tanto quanto são os dias do mês de maio. Recolheremos desse
autor algumas indicações.
Nossa
viagem ao Mundo Bíblico em busca das referências à Virgem Maria tem seu
início com o livro do Gênesis. Lá, nos primeiros capítulos, domina a imagem de
uma mulher chamada Eva. Sua atitude de desobediência é completamente contrária
à de Maria. No entanto, do seu ato nasce a mais significativa promessa de todo
o Antigo Testamento: a vitória de Deus sobre o pecado. Da descendência de Adão
e Eva virá um filho da mulher que derrotará o antigo inimigo. A tradição
encontrou nestas páginas a presença mariana escondida. Também são chamadas de
"Proto evangelho", ou seja, um primeiro anúncio da Boa Nova. Esse
primeiro casal serve de referência a Cristo e Maria. Ambos, por um caminho de
obediência plena dão início à nova humanidade. “Tal como Eva foi a mãe dos
viventes pecadores, assim Maria é a mãe dos viventes fiéis a Deus. O apelativo
‘mulher’ dirigido por Jesus à sua mãe em Caná (“Mulher, que tem isso a ver
conosco?”, Jo 2,4) e no Calvário (“Mulher, eis aí o teu filho”, Jo 19,26) é
visto como uma alusão à nova ‘mulher’ que em Maria está a manifestar. Irineu
usa ainda uma curiosa imagem, a imagem dos nós: Maria desata os nós do pecado,
nós iniciados por Eva e Adão, nós que ao longo dos séculos se apertam e tornam
o homem prisioneiro” (Gianfranco Ravasi - “Os
rostos de Maria na Bíblia” - Paulus).
Antes da
realização dessa promessa temos um longo caminho a percorrer. A luta iniciada
no paraíso atravessa toda a história da humanidade, assim quem observa de
maneira sincera a si mesmo e ao outro comprova essa dramática luta entre o bem
e o mal. Nessa luta Maria será sinal de vitória. É dela que nascerá o Redentor.
Eles são, assim, fundamento para a esperança da humanidade.
A
promessa do Redentor, do Emanuel, do Messias esperado vai se construindo ao
longo da história de Israel, particularmente na desesperança provocada pelos
pastores de Israel. Dois textos apontam mais diretamente para a promessa do
Redentor onde a figura da mãe ganha seu relevo. Na profecia de Isaias (7,10-14)
feita a Acaz no ano 736, se revela, para além do dado histórico, uma particular
menção Àquele que há de vir: um menino, que será Deus-conosco (Emanuel: o recém
nascido encarnará uma mensagem divina de esperança porque recordará com as suas
ações que Deus continua a acompanhar o seu povo, a apoiá-lo e a salvá-lo) e que
nascerá de uma jovem virgem. Mateus faz uma clara menção dessa profecia no seu
anuncio do nascimento de Jesus (Mt 1,22-23). A aplicação desse oráculo a Cristo
arrasta consigo também a aplicação mariana. “A
‘jovem mulher’ não é estéril, como acontecia noutras narrações de nascimento
célebres (Isaac, Sansão, Samuel), mas ‘virgem’, porque o filho que dela vai
nascer não provém ‘nem da carne nem da vontade do homem, mas de Deus’” (Gianfranco
Ravasi - “Os rostos de Maria na Bíblia”
- Paulus). Essa mesma promessa de Isaias será retomada livremente por Miqueias,
chegando a detalhar alguns pormenores (Mq 5,1-3). Esses dois textos são os mais
claros e diretos em seu conteúdo e se refletem sobre os evangelhos do
nascimento de Jesus.
Ó Virgem Imaculada, mãe de Deus e cheia de graça,
Aquele que tu trouxeste é o Emanuel, o fruto do teu
ventre.
Tu, ó Maria, excedes todo louvor!
Eu te saúdo, Maria, Mãe de Deus e glória dos anjos,
Porque tu superas em plenitude de graça todos os
anúncios dos profetas!
O Senhor está contigo: tu dás à luz o Salvador do
mundo.
(invocação
mariana encontrada num fragmento de terracota egípcio do sec. III).
Seguiremos
o nosso caminho pelas páginas do AT contemplando ainda algumas imagens de
textos cujos personagens, fatos, elementos, foram vistos como prenúncio de
Maria na história salvífica, de suas virtudes e de releituras teológicas,
místicas, poéticas aplicadas à Virgem. Até a próxima.