E TE CHAMAVAM MARIA – 34



Virgindade de Maria constitui antigo dogma da Igreja, proclamado depois de sua maternidade divina. No credo que recitamos seja o Apostólico ou Niceno-constatinopolitano, a mãe de Jesus é citada como a “Virgem Maria”. Em 451, o Concílio de Calcedônia declarou que Jesus é “nascido de Maria Virgem”.  Em 553, o Concílio de Constantinopla II declarou: “Encarnou-se da gloriosa Mãe de Deus e sempre Virgem Maria”. O Concílio de Calcedônia também afirmava tal realidade citando os Padres da Igreja. Finalmente, com a bula “Cum quorumdam hominium”, datada de agosto de 1555, o Papa Paulo IV afirmou a virgindade de Maria.  Assim, a Igreja, apoiada nos testemunhos bíblicos e na Tradição, afirma a virgindade de Maria antes, durante e depois do parto.
A supervalorização da vida sexual em nossa cultura atual tornou mais problemática a compreensão da virgindade das pessoas. “Sacrificam-se à sua majestade, o sexo, todos os valores humanos, privilegiando as relações sexuais antes, dentro e fora do matrimônio. Nesse contexto é quase impossível explicar o sentido da virgindade dos leigos, dos religiosos ou dos sacerdotes. Mas a virgindade em geral, e sobretudo por causa do Reino dos Céus (cf. Mateus 19,2), não é encarada pela Igreja como a negação da beleza da sexualidade nem da fecundidade matrimonial” (Vitor Groppelli – Maria, a Igreja e o povo – Ave-Maria).
Maria foi virgem antes do parto, ou seja, Jesus nasceu de uma concepção operada pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e não como consequência de relações matrimoniais entre José e sua esposa. A concepção de Jesus acontece por pura graça e iniciativa de Deus, envolvendo a resposta humana e a participação de Maria. Mateus e Lucas testemunham claramente a concepção virginal de Jesus (Mt 1,18-25; Lc 1,26-38). Eles veem nisso a realização da profecia de Isaías sobre a concepção virginal do Emanuel (Is 7,14). De acordo com eles, José não engravida Maria (Mt 1,16.18-25; Lc 1,31.34s; 3,24). Jesus é concebido efetivamente por obra do Espírito Santo (Mt 1,20; Lc 1,35). Como virgem que se torna mãe, Maria é a única origem humana de Jesus Cristo (Mt 1,16-25; Lc 1,27.35). Estes testemunhos bíblicos servem de base para que desde os primeiros tempos do cristianismo exista uma fé explícita na concepção virginal do Senhor. Justino, Irineu, Orígenes e outros sustentam essa verdade expressa constantemente nos símbolos da fé.
O fato de que Maria tenha permanecido virgem no parto sob o ponto de vista físico e moral constitui um dado de fé, definido pela Igreja: Maria deu à luz sem perder a integridade corporal (Concílio de Latrão, em 649), sinal externo de algo mais profundo: a sua total consagração ao Senhor, que opera nela maravilhas. Mas os documentos eclesiásticos nunca entraram em minúcias, nem deram explicações biológicas e ginecológicas do fato. A teologia tem procurado explicitar e aprofundar esse aspecto do dogma mariano. Vários teólogos interpretam o fato como especial milagre de Deus, conforme fala Santo Irineu. “Este dogma não deve ser retirado do contexto das demais realidades operadas por Deus em Maria. O Deus que realizou a maior das maravilhas, a encarnação do Verbo eterno no seio de uma mulher, é quem realiza a integridade corporal no parto de Maria” (Angel L. Strada – Maria: Um exemplo de Mulher – Ave Maria).
Ainda seguindo a interpretação bíblica e sua Tradição, a Igreja acredita que Maria permaneceu virgem após o parto. Isso implica afirmar que Maria não teve outros filhos, nem consumou seu casamento com José (daí a afirmação da virgindade do próprio José por alguns autores: um Filho virgem de um casal virgem). Já tratamos dessa questão dos graus de parentescos que levam os primos de Jesus a serem chamados de seus irmãos. Além do mais, antes de morrer, Jesus recomenda sua Mãe aos cuidados de João (Jo 19,26), o que seria inexplicável, se Maria tivesse tido outros filhos, dos quais seria o direito e o dever de cuidar da mãe.
Tais afirmações leva em conta o respeito ao próprio Jesus por sua encarnação, sem a participação humana, mas simples vontade de Deus, de cuja salvação parte do alto. O que não quer desvalorizar a santidade e dignidade do matrimônio ou empobrecer a sexualidade humana. Por outro se quer ressaltar a consagração total de Maria. Ela é virgem de espírito e de corpo. Sua missão a absorve de modo íntimo e pessoal. Sua virgindade é sinal de uma decisão permanente por Deus de modo incondicional. E assim ela se torna modelo para todos que se consagram a Deus, onde se reflete pobreza e disposição total. Até mais!