E TE CHAMAVAM MARIA – 31



Em nossa busca de compormos um retrato da Virgem que nos dê mais luminosidade sobre sua presença no mistério salvífico, além do testemunho bíblico precisamos também visitar a Tradição da Igreja. Através da história da Igreja, o Espírito Santo desenvolve novos aspectos do que nos foi revelado, aprofundando o mistério. Esse desenvolvimento é um processo de vida, onde existe fases de evolução, mudanças de acenos e explicitações a partir do núcleo primeiro e central. Na busca de interpretar fielmente a Palavra de Deus e na vivência da mesma, explicitam-se, aclaram-se e iluminam-se as verdades nela contidas. Assim resumiu para nós Paulo VI, por ocasião do Concílio Vaticano II: “O que Cristo quer, nós também queremos. O que havia, permanece. O que a Igreja ensinou ao longo dos séculos, nós continuamos ensinando. Agora se tem expressado somente aquilo que simplesmente se vivia. Tem-se esclarecido o que estava incerto; agora consegue uma serena formulação o que se meditava, discutia e em parte era controvertido”.
Os dogmas da Igreja são uma expressão de sua fé, uma norma de fé para cada cristão, uma verdade que é declarada de validade universal e permanente pelo magistério infalível do Sumo Pontífice. Elas se destinam ao esclarecimento e enriquecimento da fé. Pela ação do Espírito Santo na Igreja, algumas verdades contidas nas Escrituras têm uma compreensão mais profunda e são formuladas para uma melhor pregação ou vivência da mesma. Todas elas giram em torno do mistério de Cristo e nos ajudam a mantermo-nos fiéis na fé genuína do cristianismo: “Os dogmas são como placas que indicam o caminho da nossa fé. Foram criados para ajudar a gente a se manter no rumo do Santuário vivo, que é Jesus” (CNBB - Com Maria, Rumo ao Novo Milênio, p. 81).
É no campo da doutrina mariana em que mais percebemos o desenvolvimento do dogma e onde mais percebemos o sentido da fé do povo cristão. O mistério da Virgem contido nas Sagradas Escrituras foi se revelando de modo progressivo. Desde cedo essa reflexão teológica em torno de Maria se fez sentir. Desde o século II já se fazia um paralelo entre Eva e Maria, entre Maria e Igreja, sobre a sua virgindade no que diz respeito ao parto, avançando pelo século III a toda a vida de Maria. No século IV já se escuta a expressão “mãe de Deus” e no século seguinte a reflexão em torno da ausência de pecado em Maria vai ganhando consistência. O que virá a discutir-se depois sobre a Virgem, são ressonâncias desse período histórico.
Todas essas reflexões em torno do mistério da Virgem, sua pessoa e missão, vão se desenvolvendo a ponto de se tornarem uma declaração dogmática, uma simples doutrina comum da Igreja e mesmo outros aspectos permanecerão como opinião de correntes teológicas. Nosso foco são os dogmas marianos, pelo seu caráter universal, mas isso não quer dizer que outros aspectos não venham à tona. Os dogmas marianos não fogem da Sagrada Escritura, mas buscam esclarecer e enriquecer a imagem bíblica, “proporcionando à nossa fé novas profundidades de vida e de conhecimento. Ademais disso, devemos notar que os diferentes dogmas marianos formam um conjunto, são verdades intimamente conectadas entre si. E acham-se inseridas no organismo total do mistério cristão” (Angel L. Strada – Maria: Um Exemplo de Mulher – Ave Maria).
São quatro os dogmas marianos: Maternidade Divina, Virgindade Perpétua, Imaculada Conceição e Assunção. São verdades que acolhemos, aprofundamos e vivenciamos na comunidade de fé através das devoções marianas e particularmente na liturgia. Faremos juntos esse caminho de aprofundarmos esses dogmas e assim melhor compreendermos e acolhermos o mistério de Cristo a que todos eles estão ligados.
“Ó Mãe, minha Maria! Mãe do divino amor, não posso pedir outra coisa mais agradável e mais fácil de conceder que o divino amor, concedei-o, ó minha Mãe! Minha Mãe amor! Minha Mãe, tenho fome e sede de amor, socorrei-me, sacia-me! Ó coração de Maria, frágua e instrumento de amor, inflamai-me no amor de Deus e do próximo!” (Santo Antônio Maria Claret – Autobiografia – Ave Maria).