E TE CHAMAVAM MARIA... – TEXTO 16



       Depois da revelação do anjo de que Isabel também fora visitada por Deus, Maria parte às pressas para visitar sua prima em Ain Karim (segundo a tradição), na região de Judá, povoado que ficava a dois dias de caminhada, próximo de Jerusalém. Essa caminhada de Maria entre as montanhas fez recordar a alguns uma passagem do segundo livro de Samuel (2Sm 6), onde se fala da peregrinação da Arca da aliança, transportada por Davi, que pulava e dançava em frente a arca e gerou grande alegria em todo o Israel. Há quem veja uma referência de Lucas a esse fato quando fala da alegria que invade Isabel, fazendo a criança pular em seu ventre.
       Entende-se neste gesto de Maria o serviço da caridade, a serva coloca em ação a sua disposição de servir e compartilhar com Isabel sua alegria. “Maria vai prestar ajuda e, como boa dona-de-casa, atende às necessidades de um matrimônio já ancião em vésperas do nascimento de um filho. É a Virgem serviçal, aquela que não vacila em abrir-se para os demais, a fim de compartilhar com eles suas alegrias e dores. A serva do Senhor torna-se serva dos seus semelhantes. Não podia ser de outro modo, porque não há separação entre entrega a Deus e compromisso com os homens. O primeiro mandamento de Jesus encontra em Maria uma encarnação digna de admiração e respeito: o amor a Deus é fonte de amor ao próximo, e este é consequência e selo de autenticidade daquele. Seu maior serviço – a aceitação da missão maternal – impele Maria a esta outra forma de maternidade: o serviço desinteressado em prol dos demais. O mistério da Anunciação tem seu prolongamento e complemento naquele da Visitação” (Angel L. Strada – Maria: um exemplo de mulher – Ave Maria).
       Esse ir ao encontro de Isabel e Zacarias imprime em Maria essa característica que o Papa Francisco pede para a Igreja de nosso tempo: saída. Maria evangeliza no seu ato de comunicar a sua experiência de intimidade com Deus e consequente transformação de sua vida. Se ela é a primeira receptora do Evangelho, faz-se também instrumento privilegiado de comunicação desse mesmo Evangelho. Há quem suponha que a ida de Maria à casa de Isabel tenha o caráter de confirmação do que havia dito o anjo, sim assim o foi certamente não tinha o caráter da dúvida de Zacarias. Santo Ambrósio rejeita tal ideia, segundo ele ela já havia acreditado no momento do anúncio.
       Nessa característica própria de Lucas, toda a cena é inundada de uma alegria que só a presença e a ação do Espírito Santo é capaz de provocar, pois tanto Isabel como Maria achavam-se ainda sob o efeito das visitas de Deus em suas vidas. “O Espírito não encontra barreiras nestas mulheres cheias de fé e atua nelas com plenitude, santificando também a experiência mais formosa de suas vidas: a maternidade” (Angel L. Strada – Maria: um exemplo de mulher – Ave Maria).
       Isabel chama Maria de ‘bendita entre as mulheres’. “Embora possa recordar mulheres ilustres (Jael, Jz 5,24; Judite, Jt 13,18; Abigail, 1Sm 25,33), o contexto próximo nos convida a pensar na bênção genesíaca da fecundidade (Gn 1,28; 9,1; 17,16; Dt 28,4). Nenhuma maternidade da história pode ser comparada com a de Maria; a ela estava direcionada muitas maternidades precedentes” (Bíblia do Peregrino – Paulus). No louvor de Isabel brota a primeira bem aventurança do evangelho de Lucas é dirigida a Maria: “Feliz és tu que acreditaste” (Lc 1,45). “O valor da bem-aventurança é a afirmação de uma ‘plenitude de graça’ e de salvação operada por Deus no ‘bem-aventurado’. ‘É a exaltação com o louvor de um homem por motivo da sua condição de salvação que o torna bem-aventurado e o aponta como exemplo’ (M. Saebo). Há, pois, um aspecto de alegria, de contemplação, de admiração pela ação divina numa criatura; mas há também o aspecto de imitação que nasce da admiração: o ‘bem-aventurado’ é um exemplo de vida para quem o celebra. De fato, Maria é definida com a ‘Crente’ por excelência, ou seja, aquela que nos oferece um exemplo perfeito de fé” (Gianfranco Ravasi – Os Rostos de Maria na Bíblia – Paulus).
       Com Maria, continuaremos na casa de Isabel. Ainda temos alguns detalhes a contar desse encontro. Até mais!