E TE CHAMAVAM MARIA... – TEXTO 11


         Nesse tempo de preparação ao Natal, retomemos as passagens proféticas que o próprio Mateus aplica a Cristo ao falar da anunciação a José sobre o mistério que envolve a sua noiva: “Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: ‘Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho; e hão de chama-lo Emanuel, quer dizer: Deus conosco’”. O texto a que se refere Mateus se encontra em Isaias 7,14 e será retomado por Miquéias (5,2).
           É preciso que compreendamos bem o contexto em que o profeta anuncia o nascimento do Emanuel. Israel está para se aliar a outros povos contra a Assíria sob o reinado de Acaz. O profeta vai ao seu encontro e recomenda que enfrente a Assíria sem fazer coligações. Para atestar que o apoio divino se fará, ele oferece um sinal, pois Acaz já não acredita tanto assim no Senhor (ele tenta disfarçar o seu desconforto: cf. Is 7,1-17). Mesmo assim o profeta anuncia o nascimento de um menino que será um herói-salvador. Mas aquela que o conceberá é uma jovem mulher, não uma virgem, como anuncia Mateus. É possível indicar essa jovem como Abias, esposa do soberano, que até então não lhe tinha dado um herdeiro.  A fidelidade de Deus à promessa feita a Davi fará nascer Ezequias, que será um rei devoto e fiel.
       O nome Emanuel tem um caráter simbólico, para dizer que tal criança encarnará uma mensagem divina de esperança porque recordará com suas ações que Deus continua a acompanhar o seu povo, a apoia-lo e a salvá-lo. À criança se aplicará uma dieta especial, leite e mel. Esta também traz consigo um sentido simbólico que talvez revele um período de instabilidade ou insegurança momentânea. Talvez isso se refira à sua juventude e até o momento de tomar posse do trono, que coincide com a derrocada da Assíria e da Samaria, trazendo um tempo de paz. Assim podemos entender de que sinal está falando o profeta a partir de sua história contemporânea, mas é próprio da profecia delinear um caminho que se lança também para o futuro.
        O Deus conosco, revelado no nome do menino traz consigo um caráter particular do Deus de Israel, para quem um dia Davi desejou construir uma casa (cf. 2Sm 7,9.12). A casa que será construída consiste na dinastia davídica, com quem Deus caminhará a habitará no meio do seu povo. Deus sempre foi companheiro de viagem, desde a saída do Egito, assim podemos compreender porque Mateus se refere ao nascimento de Jesus como mesmo nome simbólico de Emanuel. Ele vê realizar-se a plenitude do significado daquilo que o profeta apenas intuiu.  
          A aplicação da profecia a Cristo traz consigo sua Mãe. Que diferentemente de outros nascimentos célebres (Isaac, Sansão, Samuel), não vem de uma mulher estéril, mas de uma virgem, pois o filho que dela nascerá não provem da carne nem da vontade do homem, mas de Deus. A profecia torna-se também mariana. É a ela que nos dirigimos com este fragmento egípcio do século III:

Ó Virgem Imaculada, mãe de Deus e cheia de graça,
Aquele que tu trouxeste é o Emanuel, o fruto do teu ventre.
Tu, ó Maria, excedes todo o louvor!
Eu te saúdo, Maria, mãe de Deus e glória dos anjos,
Porque tu superas em plenitude de graças os anúncios dos profetas!

O Senhor está contigo: tu dás à luz o Salvador do mundo.