Em
nossa busca de compormos um retrato da Virgem que nos dê mais luminosidade
sobre sua presença no mistério salvífico, além do testemunho bíblico precisamos
também visitar a Tradição da Igreja. Através da história da Igreja, o Espírito
Santo desenvolve novos aspectos do que nos foi revelado, aprofundando o
mistério. Esse desenvolvimento é um processo de vida, onde existe fases de
evolução, mudanças de acenos e explicitações a partir do núcleo primeiro e
central. Na busca de interpretar fielmente a Palavra de Deus e na vivência da
mesma, explicitam-se, aclaram-se e iluminam-se as verdades nela contidas. Assim
resumiu para nós Paulo VI, por ocasião do Concílio Vaticano II: “O que Cristo quer, nós também queremos. O
que havia, permanece. O que a Igreja ensinou ao longo dos séculos, nós
continuamos ensinando. Agora se tem expressado somente aquilo que simplesmente
se vivia. Tem-se esclarecido o que estava incerto; agora consegue uma serena
formulação o que se meditava, discutia e em parte era controvertido”.
Os
dogmas da Igreja são uma expressão de sua fé, uma norma de fé para cada
cristão, uma verdade que é declarada de validade universal e permanente pelo
magistério infalível do Sumo Pontífice. Elas se destinam ao esclarecimento e
enriquecimento da fé. Pela ação do Espírito Santo na Igreja, algumas verdades
contidas nas Escrituras têm uma compreensão mais profunda e são formuladas para
uma melhor pregação ou vivência da mesma. Todas elas giram em torno do mistério
de Cristo e nos ajudam a mantermo-nos fiéis na fé genuína do cristianismo: “Os dogmas são como placas que indicam o
caminho da nossa fé. Foram criados para ajudar a gente a se manter no rumo do
Santuário vivo, que é Jesus” (CNBB - Com Maria, Rumo ao Novo Milênio, p.
81).
É
no campo da doutrina mariana em que mais percebemos o desenvolvimento do dogma
e onde mais percebemos o sentido da fé do povo cristão. O mistério da Virgem
contido nas Sagradas Escrituras foi se revelando de modo progressivo. Desde
cedo essa reflexão teológica em torno de Maria se fez sentir. Desde o século II
já se fazia um paralelo entre Eva e Maria, entre Maria e Igreja, sobre a sua
virgindade no que diz respeito ao parto, avançando pelo século III a toda a
vida de Maria. No século IV já se escuta a expressão “mãe de Deus” e no século
seguinte a reflexão em torno da ausência de pecado em Maria vai ganhando
consistência. O que virá a discutir-se depois sobre a Virgem, são ressonâncias
desse período histórico.
Todas
essas reflexões em torno do mistério da Virgem, sua pessoa e missão, vão se
desenvolvendo a ponto de se tornarem uma declaração dogmática, uma simples
doutrina comum da Igreja e mesmo outros aspectos permanecerão como opinião de
correntes teológicas. Nosso foco são os dogmas marianos, pelo seu caráter
universal, mas isso não quer dizer que outros aspectos não venham à tona. Os
dogmas marianos não fogem da Sagrada Escritura, mas buscam esclarecer e
enriquecer a imagem bíblica, “proporcionando à nossa fé novas profundidades de
vida e de conhecimento. Ademais disso, devemos notar que os diferentes dogmas
marianos formam um conjunto, são verdades intimamente conectadas entre si. E
acham-se inseridas no organismo total do mistério cristão” (Angel L. Strada – Maria: Um Exemplo de Mulher – Ave
Maria).
São
quatro os dogmas marianos: Maternidade Divina, Virgindade Perpétua, Imaculada
Conceição e Assunção. São verdades que acolhemos, aprofundamos e vivenciamos na
comunidade de fé através das devoções marianas e particularmente na liturgia.
Faremos juntos esse caminho de aprofundarmos esses dogmas e assim melhor compreendermos
e acolhermos o mistério de Cristo a que todos eles estão ligados.
“Ó
Mãe, minha Maria! Mãe do divino amor, não posso pedir outra coisa mais
agradável e mais fácil de conceder que o divino amor, concedei-o, ó minha Mãe!
Minha Mãe amor! Minha Mãe, tenho fome e sede de amor, socorrei-me, sacia-me! Ó
coração de Maria, frágua e instrumento de amor, inflamai-me no amor de Deus e
do próximo!” (Santo Antônio Maria
Claret – Autobiografia – Ave Maria).