Virgindade
de Maria constitui antigo dogma da Igreja, proclamado depois de sua maternidade
divina. No credo que recitamos seja o Apostólico ou Niceno-constatinopolitano,
a mãe de Jesus é citada como a “Virgem Maria”. Em 451, o Concílio de Calcedônia
declarou que Jesus é “nascido de Maria
Virgem”. Em 553, o Concílio de
Constantinopla II declarou: “Encarnou-se
da gloriosa Mãe de Deus e sempre Virgem Maria”. O Concílio de Calcedônia
também afirmava tal realidade citando os Padres da Igreja. Finalmente, com a
bula “Cum quorumdam hominium”, datada
de agosto de 1555, o Papa Paulo IV afirmou a virgindade de Maria. Assim, a Igreja, apoiada nos testemunhos
bíblicos e na Tradição, afirma a virgindade de Maria antes, durante e depois do
parto.
A
supervalorização da vida sexual em nossa cultura atual tornou mais problemática
a compreensão da virgindade das pessoas. “Sacrificam-se
à sua majestade, o sexo, todos os valores humanos, privilegiando as relações
sexuais antes, dentro e fora do matrimônio. Nesse contexto é quase impossível
explicar o sentido da virgindade dos leigos, dos religiosos ou dos sacerdotes.
Mas a virgindade em geral, e sobretudo por causa do Reino dos Céus (cf. Mateus
19,2), não é encarada pela Igreja como a negação da beleza da sexualidade nem
da fecundidade matrimonial” (Vitor Groppelli – Maria, a Igreja e o povo – Ave-Maria).
Maria
foi virgem antes do parto, ou seja, Jesus
nasceu de uma concepção operada pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e
não como consequência de relações matrimoniais entre José e sua esposa. A
concepção de Jesus acontece por pura graça e iniciativa de Deus, envolvendo a
resposta humana e a participação de Maria. Mateus e Lucas testemunham
claramente a concepção virginal de Jesus (Mt 1,18-25; Lc 1,26-38). Eles veem
nisso a realização da profecia de Isaías sobre a concepção virginal do Emanuel
(Is 7,14). De acordo com eles, José não engravida Maria (Mt 1,16.18-25; Lc
1,31.34s; 3,24). Jesus é concebido efetivamente por obra do Espírito Santo (Mt
1,20; Lc 1,35). Como virgem que se torna mãe, Maria é a única origem humana de
Jesus Cristo (Mt 1,16-25; Lc 1,27.35). Estes testemunhos bíblicos servem de
base para que desde os primeiros tempos do cristianismo exista uma fé explícita
na concepção virginal do Senhor. Justino, Irineu, Orígenes e outros sustentam
essa verdade expressa constantemente nos símbolos da fé.
O
fato de que Maria tenha permanecido virgem no
parto sob o ponto de vista físico e moral constitui um dado de fé, definido
pela Igreja: Maria deu à luz sem perder a integridade corporal (Concílio de
Latrão, em 649), sinal externo de algo mais profundo: a sua total consagração
ao Senhor, que opera nela maravilhas. Mas os documentos eclesiásticos nunca
entraram em minúcias, nem deram explicações biológicas e ginecológicas do fato.
A teologia tem procurado explicitar e aprofundar esse aspecto do dogma mariano.
Vários teólogos interpretam o fato como especial milagre de Deus, conforme fala
Santo Irineu. “Este dogma não deve ser
retirado do contexto das demais realidades operadas por Deus em Maria. O Deus
que realizou a maior das maravilhas, a encarnação do Verbo eterno no seio de
uma mulher, é quem realiza a integridade corporal no parto de Maria” (Angel
L. Strada – Maria: Um exemplo de Mulher – Ave Maria).
Ainda
seguindo a interpretação bíblica e sua Tradição, a Igreja acredita que Maria
permaneceu virgem após o parto. Isso
implica afirmar que Maria não teve outros filhos, nem consumou seu casamento
com José (daí a afirmação da virgindade do próprio José por alguns autores: um
Filho virgem de um casal virgem). Já tratamos dessa questão dos graus de
parentescos que levam os primos de Jesus a serem chamados de seus irmãos. Além
do mais, antes de morrer, Jesus recomenda sua Mãe aos cuidados de João (Jo
19,26), o que seria inexplicável, se Maria tivesse tido outros filhos, dos
quais seria o direito e o dever de cuidar da mãe.
Tais
afirmações leva em conta o respeito ao próprio Jesus por sua encarnação, sem a
participação humana, mas simples vontade de Deus, de cuja salvação parte do
alto. O que não quer desvalorizar a santidade e dignidade do matrimônio ou
empobrecer a sexualidade humana. Por outro se quer ressaltar a consagração
total de Maria. Ela é virgem de espírito e de corpo. Sua missão a absorve de
modo íntimo e pessoal. Sua virgindade é sinal de uma decisão permanente por
Deus de modo incondicional. E assim ela se torna modelo para todos que se
consagram a Deus, onde se reflete pobreza e disposição total. Até mais!