Nesse tempo de preparação ao Natal, retomemos as
passagens proféticas que o próprio Mateus aplica a Cristo ao falar da
anunciação a José sobre o mistério que envolve a sua noiva: “Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o
Senhor tinha dito pelo profeta: ‘Eis que a virgem conceberá e dará à luz um
filho; e hão de chama-lo Emanuel, quer dizer: Deus conosco’”. O texto a que
se refere Mateus se encontra em Isaias 7,14 e será retomado por Miquéias (5,2).
É preciso que compreendamos bem o contexto em que o
profeta anuncia o nascimento do Emanuel. Israel está para se aliar a outros
povos contra a Assíria sob o reinado de Acaz. O profeta vai ao seu encontro e
recomenda que enfrente a Assíria sem fazer coligações. Para atestar que o apoio
divino se fará, ele oferece um sinal, pois Acaz já não acredita tanto assim no
Senhor (ele tenta disfarçar o seu desconforto: cf. Is 7,1-17). Mesmo assim o
profeta anuncia o nascimento de um menino que será um herói-salvador. Mas
aquela que o conceberá é uma jovem mulher, não uma virgem, como anuncia Mateus.
É possível indicar essa jovem como Abias, esposa do soberano, que até então não
lhe tinha dado um herdeiro. A fidelidade
de Deus à promessa feita a Davi fará nascer Ezequias, que será um rei devoto e
fiel.
O nome Emanuel tem um caráter simbólico, para dizer que
tal criança encarnará uma mensagem divina de esperança porque recordará com
suas ações que Deus continua a acompanhar o seu povo, a apoia-lo e a salvá-lo.
À criança se aplicará uma dieta especial, leite e mel. Esta também traz consigo
um sentido simbólico que talvez revele um período de instabilidade ou
insegurança momentânea. Talvez isso se refira à sua juventude e até o momento
de tomar posse do trono, que coincide com a derrocada da Assíria e da Samaria,
trazendo um tempo de paz. Assim podemos entender de que sinal está falando o
profeta a partir de sua história contemporânea, mas é próprio da profecia
delinear um caminho que se lança também para o futuro.
O Deus conosco, revelado no nome do menino traz consigo
um caráter particular do Deus de Israel, para quem um dia Davi desejou
construir uma casa (cf. 2Sm 7,9.12). A casa que será construída consiste na
dinastia davídica, com quem Deus caminhará a habitará no meio do seu povo. Deus
sempre foi companheiro de viagem, desde a saída do Egito, assim podemos
compreender porque Mateus se refere ao nascimento de Jesus como mesmo nome
simbólico de Emanuel. Ele vê realizar-se a plenitude do significado daquilo que
o profeta apenas intuiu.
A aplicação da profecia a Cristo traz consigo sua Mãe.
Que diferentemente de outros nascimentos célebres (Isaac, Sansão, Samuel), não
vem de uma mulher estéril, mas de uma virgem, pois o filho que dela nascerá não
provem da carne nem da vontade do homem, mas de Deus. A profecia torna-se
também mariana. É a ela que nos dirigimos com este fragmento egípcio do século
III:
Ó
Virgem Imaculada, mãe de Deus e cheia de graça,
Aquele
que tu trouxeste é o Emanuel, o fruto do teu ventre.
Tu,
ó Maria, excedes todo o louvor!
Eu
te saúdo, Maria, mãe de Deus e glória dos anjos,
Porque
tu superas em plenitude de graças os anúncios dos profetas!
O
Senhor está contigo: tu dás à luz o Salvador do mundo.