A
primeira e mais fundamental afirmação do dogma católico sobre Maria é a
maternidade divina. A própria Sagrada Escritura o atesta na narrativa da
Anunciação, na visita a Isabel, do próprio Paulo que reconhece a vinda do Filho
de Deus através de uma mulher e com isso a preexistência do mesmo Filho. Que
entra na nossa história em igual processo humano através de uma mulher e Maria
é eleita para essa missão excepcional. Isso é história.
Essa
maternidade de Maria sempre esteve presente na Tradição. No Credo, na doutrina
dos Santos Padres, na fé do povo. Essa fé na maternidade divina de Maria é
consequência da própria compreensão do mistério de Cristo num processo de
proteção e enriquecimento recíprocos. É no século V que esse processo alcança
um dos seus pontos culminantes. Temos a
discussão se Maria teria gerado tão somente o homem Cristo ao qual,
posteriormente o Verbo se teria unido (Nestório, bispo de Constantinopla desde
428, é o principal expoente desse pensamento). Tal pensamento negaria a
realidade da Encarnação, significando uma espécie de justaposição e não
verdadeira união.
A
escola de Alexandria (São Cirilo), reage contra a doutrina de Nestório e assim,
o Concílio de Éfeso, realizado em 431, rejeita tal doutrina e confirma que é um
e o mesmo aquele que é gerado pelo Pai desde a eternidade e aquele que nasceu
da Maria como homem. Assim, pode se afirmar que Maria é Mãe de Deus, porque
Cristo é verdadeiro Deus e é verdadeiro homem na realidade de um único sujeito
pessoal: o Verbo. Assim declara o Concílio: "Porque
não nasceu primeiramente um homem comum, da Virgem Santa, e depois desceu sobre
ele o Verbo. Porém, unido desde o seio materno, diz-se que se submeteu a
nascimento carnal como alguém que faz seu nascimento da própria carne... Dessa
maneira, (os Santos Padres) não acharam inconveniente chamara a Virgem Santa de
Mãe de Deus”. Anos depois, o Concílio de Calcedônia, 451, reafirma a mesma
doutrina.
É
importante compreender nesse processo do termo Mãe de Deus, aplicado à Virgem,
que “Maria não é e nem pode ser mãe da
natureza divina. Mas, por geração humana, é realmente mãe de um Filho que é
Deus. Não porque seja mãe de um homem que se une a Deus, mas porque, desde o
instante da sua concepção, seu Filho é pessoalmente Deus. O fato de Maria não
entregar a seu Filho a natureza nem a personalidade divina em nada obscurece a
profundidade e a realidade de sua maternidade. Nenhuma mãe confere a seu filho
a alma e, sem embargo, é realmente mãe, não só do corpo que gera, mas de toda a
pessoa. De maneira semelhante, Maria não é mãe unicamente do corpo de Jesus,
mas é Mãe do Filho de Deus” (Angel L. Strada – Maria: Um Exemplo de Mulher – Ave Maria).
Como
toda criança que vem a esse mundo, Cristo foi dado à luz, alimentado e cuidado
pela Virgem, como toda criatura em sua dependência materna. Foi ela que “fez o
Cristo falar, Maria que fez Jesus caminhar”, se relacionar com demais,
introduziu na religiosidade do seu povo, nessa lenta aprendizagem que faz parte
do nosso ser humano. É assim que intuímos nas palavras de Jesus, a influência
dessa maternidade, presente nas suas parábolas, nesse olhar para o feminino em
suas atividades, como destaca Lucas. “Para
Nossa Senhora ser mãe significa ser educadora de um filho o qual, mesmo sendo
Filho de Deus, nasce e cresce humanamente, e se desenvolve em sabedora e graça
diante de Deus e dos homens (Lucas 2,52). Como observa muito bem um estudioso,
‘a maternidade de Maria pertence ao mistério da Encarnação. Nesse mistério, a
maternidade de Nossa Senhora expressa a inserção mais perfeita do Filho de Deus
na humanidade, quer dizer o que existe de mais encarnado na própria Encarnação.
Nesse sentido, o título Theotókos representa o ponto mais alto da Encarnação’” (Vitor Groppelli – Maria, a Igreja e o povo – Ave-Maria).
A
maternidade divina de Maria é a base e o princípio fundamental da teologia
marial. Esta na origem dos demais dogmas marianos. Todas as graças, privilégios
e títulos de Maria estão fundamentados nesta verdade mariana. Ainda temos
algumas outras coisas a dizer. Até o nosso próximo encontro.